"... Por tanto amor, por tanta emoção, a vida me fez assim.

Doce ou atroz, manso ou feroz... eu, caçador de mim..."

Milton Nascimento











segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Amor virtual - final


...Após trocarem os telefones, as conversas foram se tornando cada vez mais frequentes. Se falavam várias vezes ao dia e o assunto era tanto, que ainda marcavam de conversar a noite através do computador. Logo no primeiro contato, eles já haviam falado de algumas caracteristicas físicas, mas ainda não tinham trocado fotos. Só se conheciam através das imagens que foram criando um do outro, até que resolveram se apresentar.
 Ele tinha estatura mediana, pele morena, cabelos e olhos negros, um corpo definido, era jovem e estava esbanjando vitalidade. Ela, alta, pele clara, cabelos loiros, encaracolados e longos, olhos azuis e alguns anos a mais que ele. De inicio, ele não acreditou que aquela foto seria realmente dela, loira de olhos azuis eram as características que as mulheres mais usavam para se definirem numa conversa virtual na tentativa de impressionar quem estivesse do outro lado da tela. Ficou uma certa dúvida, porém, ela não insistiu muito pra que ele acreditasse. Mesmo porque, não acreditava que aquilo faria a menor diferença, pois,  na sua cabeça, aquele seria somente mais um dos inúmeros caras que havia conhecido na internet nos últimos tempos. Deixou-o à vontade para tirar suas próprias conclusões.
O tempo foi passando e eles foram ficando cada vez mais ligados. A cada conversa se descobriam um pouco mais e junto nascia um sentimento ainda confuso que insistia em se estebelecer. Começaram a fazer planos para se conhecerem pessoalmente. Passaram meses planejando, até que  num certo final de semana, esse encontro enfim aconteceria. Combinaram de se encontrar numa cidadezinha entre a cidade dele e onde ela morava. Ela mal conseguiu dormir naquela noite, tamanha era sua ansiedade. Havia uma certa insegurança, pois ouvira inúmeras histórias com finais tragicos, porém, resolveu arriscar. Era corajosa e curiosa o suficiente para enfrentar aquele desconhecido que passara a tomar conta de sua vida  de forma tão intensa.
Marcaram de se encontrar na rodoviária da tal cidade. Ela chegou primeiro e logo arrumou um cantinho onde pudesse se esconder e de onde conseguiria ver qualquer pessoa que chegasse. Esperou alguns minutos até que seu celular tocou. Era ele avisando que o seu ônibus acabara de chegar na rodoviária. Ela permaneceu de lá só observando. Viu que o ônibus já havia estacionado e ficou prestando atenção à todas as pessoas que desciam, uma a uma. Até que de repente, lá estava ele. Exatamente como ela tinha visto na foto. Seu coração disparou a ponto de quase saltar pela boca. Era praticamente impossível conter aquela coisa estranha que estava sentindo naquele momento. Ele entrou olhando pra todos os lados a sua procura. Pegou o telefone, e novamente ligou pra ela. Ela atendeu e seguiu em sua direção até que se viram cara a cara. Naquele instante, o mundo parou. Ambos ficaram completamente sem atitude, era encantador demais pra acreditar que o encontro finalmente estava acontecendo. Por alguns segundos, permaneceram congelados, se olhando, até que ele tomou a iniciativa e a abraçou. A emoção era tão grande que suas vozes estavam trêmulas, quase nulas. As mãos estavam frias e os corpos estremecidos. Se abraçaram e meio sem jeito  sentaram-se em um barzinho ali mesmo. Em pouco tempo o desconforto do primeiro momento havia passado, já estavam mais à vontade, tomaram um café, e sairam pela cidade.Conversaram durante horas.
Como era uma cidade turística e tinha um parque lindo, resolveram ir pra lá para passar o dia. Ambos sentiam que algo diferente estava acontecendo entre eles. Tinham uma sintonia incrível. E o lugar era tão mágico que contribuiu para que o encontro fosse perfeito. Passaram a manhã inteira  juntos. Almoçaram, e após o almoço, sentaram-se à sombra de uma árvore para descansar e se refrescarem. Compraram um sorvete e ficaram lá por horas contemplando a beleza do lugar e do momento tão especial pelo qual estavam vivendo.
Num súbto instante, um silêncio profundo pairou no ar e ele sem pestanejar a surpreendeu com um longo beijo. Ela, por nenhum momento tentou se livrar. Deixou que ele a conduzisse. Não entendia porque estava permitindo, mas havia algo muito  forte que a impedia de sair dos seus braços. A partir desse beijo,  aquele encontro estaria eternizado. Eles sabiam que talvez não iriam se encontrar nunca mais, mas, se deixaram viver aquele momento único. O dia terminou. Ela havia combinado com uma amiga que morava na mesma cidade, que passaria a noite em sua casa. Se despediram. Ele se hospedara num hotel. Se falaram mais algumas vezes durante a noite por telefone. Estavam radiantes e ao mesmo tempo confusos. Não sabiam explicar o que estavam sentindo, só sabiam que estavam em estado de êxtase.
Na manhã seguinte, se encontraram novamente no barzinho da rodoviária, tomaram café juntos se despediram cheios de promessas de um segundo encontro e com o coração apertado com a incerteza do que aconteceria daquele dia em diante.
Depois desse pimeiro encontro, os meses foram passando, e a vontade de se verem de novo foi ficando cada vez mais intensa. A relação foi criando uma proporção tão grande  que decidiram namorar a distância. Conheceram as famílias um do outro e pelo menos uma vez por mês se encontravam. Ele ia pra cidade dela e ela ia pra cidade dele. Estavam apaixonados. Cada encontro era incrível, aproveitavam cada minuto. Era uma relação diferente, talvez porque a distância fazia com que fosse assim. Os momentos que tinham  juntos, eram pré determinados e tinham hora pra acabar. Normalmente duravam somente um final de semana, e logo cada um teria que voltar à sua vida normal. E talvez por esse motivo só acontecessem coisas boas. Não tinham tempo pra perder com desentendimentos, também nem tinham motivos para isso porque não tinham rotina. A cada encontro era uma nova expectativa. Era sempre tudo novo. E a saudade e a vontade de estarem juntos era tão grande que nenhum  outro sentimento teria importância.
Faziam planos de se casarem, terem filhos, de construir uma vida nova, esses planos que todo casal apaixonado sempre faz. Estavam certos de que haviam sido feitos um para o  outro, que o destino havia feito com que se encontrassem de alguma maneira e que ficariam juntos pelo resto de suas vidas. A cada encontro descobriam juntos novas experiências, novos desafios. Estavam vivendo um conto de fadas. Sabiam que podiam se machucar, mas estavam envolvidos demais para que pudessem ter cautela. Viveram tudo sem restrições, sem barreiras, sem medos. Se entregaram de corpo e alma àquela relação.
 Mas a distância era um fator de peso nessa história. E com o passar do tempo, foi ficando cada vez mais insustentável. Aquela magia do começo foi deixando de existir. E vieram as cobranças, a falta de confiança entre outras questões.
E ela, como já havia sofrido demais com a relação anterior começou a ver a situação com outros olhos. Tinha tanto medo de sofrer de novo, que não se permitia aprofundar mais. Começou a acreditar na hipótese de  que aquilo provavelmente não teria o futuro que estavam planejando, que era fantasioso demais para que dessem tanto crédito. E num ato de auto defesa começou a se afastar. Parou de telefonar, não atendia mais as ligações dele. Não respondia suas mensagens, simplesmente passou a ignorá-lo. Sofreu mesmo assim. Porque já não havia mais como fugir daquele sentimento. Mas preferiu sofrer naquele momento a prolongar a situação e sofrer em dobro depois. Preferiu então cortar o mal pela raíz.
 Ele, sem entender os motivos que a levaram a tomar tais atitudes até tentou por várias vezes algum contato. Ligava para a familia dela tentando achar uma resposta que o faria acreditar que tudo teria acabado. Ele nunca desistiu, porém, todas as suas tentativas foram inúteis. Ela realmente não estava preparada pra viver uma relação que não era convencional. Precisava se sentir segura. Queria ter alguém sim, mas que estivesse ao seu lado sempre. Alguém com quem pudesse contar a qualquer hora. E não alguém que estava a quase quinhentos quilometros de distância com quem tinha somente encontros marcados. E assim a relação se perdeu. Sem realmente ter tido um fim...
Hoje, quatro anos se passaram.
 Ela seguiu sua vida. Conheceu outra pessoa, se apaixonou novamente, e em pouco tempo depois se casou. Vive muito bem com seu esposo, o  ama muito e está imensamente realizada e feliz.
 Ele estudou, se formou, e está seguindo a sua vida.
Suas vidas se perderam e cada um traçou um novo caminho. Têm outros interesses, porém, têm em comum as lembranças dessa história e a  incerteza de que teriam sido felizes juntos ... ou não ...

Um comentário:

  1. A distância é com certeza uma senhora muito mal educada. já tentei manter uma relação assim. Não deu certo....

    Abraços.

    ResponderExcluir