"... Por tanto amor, por tanta emoção, a vida me fez assim.

Doce ou atroz, manso ou feroz... eu, caçador de mim..."

Milton Nascimento











quarta-feira, 28 de julho de 2010

Maneira de Amar


"O jardineiro conversava com as flores e elas se habituaram ao seu diálogo.
Passava manhãs contando coisas à uma cravinha ou escutando o que lhe confiava um gerânio.
O girassol não ia muito com a sua cara, ou porque não fosse muito bonito, ou porque os girassóis são orgulhosos de natureza.
Em vão, o jardineiro tentava captar-lhe as graças, pois o girassol chegava a voltar-se contra a luz para não ver o rosto que lhe sorria.
Era uma situação embaraçosa, que as outras flores não comentavam.
Nunca, entretanto, o jardineiro deixou de regar o pé de girassol e de renovar-lhe a terra na ocasião devida.
O dono do jardim, achou que seu empregado perdia muito tempo parado diante dos canteiros, aparentemente não fazendo coisa alguma. E mandou-o embora, depois  de assinar a carteira de trabalho.
Depois que o jardineiro saiu, as flores ficaram tristes e censuravam-se porque não tinham induzido o girassol a mudar de atitude.
A mais triste de todas era o girassol, que não se conformava com a ausência do homem.
"Você o tratava mal, agora está arrependido?"
"Não, respondeu. Estou triste porque agora não posso tratá-lo mal.
É a minha maneira de amar, ele sabia disso e gostava."

Carlos Drummond de Andrade

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Sapato Velho - Roupa Nova


Você se lembra, lembra
Daquele tempo
Eu tinha estrelas nos olhos
Um jeito de herói
Era mais forte e veloz
Que qualquer mocinho de cowboy

Você se lembra, lembra
Eu costumava andar
Bem mais de mil léguas
Pra poder buscar
Flores de maio azuis
E os seus cabelos enfeitar

Água da fonte
Cansei de beber
Pra não envelhecer

Como quisesse
Roubar da manhã
Um lindo pôr de sol

Hoje, não colho mais
As flores de maio
Nem sou mais veloz
Como os heróis

É talvez eu seja simplesmente
Como um sapato velho
Mas ainda sirvo
Se você quiser
Basta você me calçar
Que eu aqueço o frio
Dos seus pés





quarta-feira, 21 de julho de 2010

O paraíso da minha vida


"Tudo começou nos anos oitenta , numa pequena e pacata cidade do Centro Oeste de Minas, chamada Iguatama.
Certo dia, meu pai chega em casa com a notícia de que iríamos  nos  mudar pra essa cidade até então completamente desconhecida. Nessa época meio irmão e eu éramos muito pequenos.
Pra nós, era o mesmo que ir morar no fim do mundo. Não tínhamos a menor idéia do que iríamos encontrar por lá. Porém, meus pais, com o intuito de conseguir uma vida melhor ( já que meu pai havia recebido uma proposta pra trabalhar numa grande empresa que se instalava lá), enfrentaram  essa mudança com a cara e a coragem. E assim fomos nós. Mal sabíamos que estávamos indo pro "paraíso". Foi uma viagem longa, cansativa e maior ainda era a nossa ansiedade para saber o que nos esperava.
Quando avistamos a chegada da cidade, uma coisa me chamou muita atenção. Havia uma ponte sobre um rio sujo que atende pelo nome de "São Francisco", ou para os mais intímos, o "Velho chico". Essa ponte me assombrou durante todos os anos em que vivi lá. Tenho pavor de água, e todas as noites tinha pesadelos de  que estava caindo daquela ponte horrorosa, que pra mim era imensa, do tamanho do meu medo.
A cidade era completamente parada, com pessoas simples, típicas de cidades do interior. Sabíamos que iríamos morar em uma vila que pertencia à tal empresa. Essa vila era conhecida como Vila II, mas na entrada, havia uma placa indicando que o lugar chamava-se "Jardim Paraíso".
Os dias foram passando, fomos nos acostumando com o lugar, fizemos grandes amizades e com isso fomos descobrindo aos poucos que não poderia haver lugar melhor para se viver.
 Foram os melhores anos da minha vida. Lá, tudo era muito especial. Os amigos eram os melhores , as frutas tinham sabores especiais, a escola era incrível, não havia violência, brincávamos na rua até tarde da noite. Nossos brinquedos eram os mais simples, porém,os que mais nos divertia. Essa vila era realmente o "paraíso".
 Tinha um pequeno parque, com brinquedos velhos, uma velha quadra,  onde passávamos a maior parte do tempo. Ali era o nosso mundo. E foi assim que fui me tornando a criança mais feliz do universo.
Os anos se passaram, nós fomos crescendo, e com isso, algumas famílias começaram a se mudar de lá. Vi muitos dos meus melhores amigos, tendo que se despedir do "paraíso", e tendo que voltar para o mundo real. Afinal, quase todos os adultos daquele lugar, estavam lá pelo mesmo motivo que meu pai. Para trabalhar na tal empresa. Mas, como nada na vida é para sempre, aqueles empregos promissores também não eram e assim, as pessoas teriam que voltar para as suas cidades de origem.
 O mesmo aconteceu conosco. Depois de alguns anos vivendo lá,  meu pai chega com a terrível notícia de que teríamos que voltar pra Uberaba em poucos dias. Era dezembro, estávamos de férias da escola, muitos de nossos amigos estavam viajando. Como a maioria das pessoas eram de outras cidades, sempre aproveitavam os feriados e as férias para visitarem as suas famílias. Foi tudo muito rápido e mal tivemos tempo de nos despedir. Em um curto prazo, estávamos de mudança, prontos para colocar fim àquele sonho.
Foi a viagem mais longa da minha vida. Não conseguia conter o choro e a tristeza de ter que deixar aquele lugar. Não me conformava de não ter tido tempo de me despedir dos meus amigos da escola. Não conseguia aceitar o fato de que eu nunca mais os veria. Nunca mais voltaria lá. Aquela ponte horrosa não mais faria parte da minha vida. E de certa forma iria sentir falta dela. Tudo iria mudar. Estava prestes a enfrentar a vida numa cidade relativamente grande, onde não seria possível viver aqueles momentos mágicos da pequena Iguatama. Nesta época eu já estava com doze anos. Já entendia melhor as coisas, mas aceitar era muito dificil!
 Começamos uma nova vida em Uberaba,  com novos amigos, numa nova escola. Tudo novo. Tudo diferente. Me sentia como se não fosse desse mundo. O meu mundo era aquela cidadezinha que deixei pra trás. Sentia uma saudade profunda daquele lugar e das coisas maravilhosas que vivi lá. Passei longos anos, lamentando e sempre com um pé preso naquele passado magnífico e inesquecível.
Perdi completamente o contato com todos os meus amigos. Por algum tempo, ainda escrevíamos cartas, mas, isso foi ficando cada vez mais raro, até que um dia nunca mais tivemos notícias uns dos outros. Perdemos o contato, mas, jamais deixei de sentir saudades e de sonhar com o momento em que nos encontraríamos de novo.
Praticamente vinte anos depois, com o surgimento do orkut, vi a possibilidade de reencontrar essas pessoas e comecei a minha odisséia pelo mundo virtual na tentativa incessante de encontrar alguém daquela época.
A cada dia era uma descoberta nova. Encontrei praticamente todos os meus velhos amigos, todos com novas estórias.Muitos formados, casados, com filhos.
Descobri que todos eles também alimentavam a saudade do passado,  não haviam se esquecido de mim, e que o "paraíso" tinha a mesma importância pra eles, mesmo depois de tantos anos. Eles também guardavam com carinho essas lembranças.
E com esses reencontros virtuais, nasceu a possibilidade de realizar o sonho de retonar ao "paraíso".
Uma amiga daquela época ( uma das poucas que ainda morava lá) iria se casar, e havia me mandado um convite do seu casamento. Iria se tornar real o meu sonho de poder voltar àquele lugar tão mágico.
Foi a melhor viagem da minha vida!
Quando avistei a cidade ao longe, pensei que meu coração não iria aguentar de tanta emoção.
Chegando na cidade, lá estava a ponte. Estava velha, um pouco destruída, mas firme como nunca.
 O "Velho Chico" continuava imponente, apesar de meio descuidado. Nesse instante, tive uma súbta crise de risos, porque  descobri que a tal ponte não era tão assustadora como eu acreditava que fosse. É que quando somos crianças as coisas que nos metem medo, têm uma dimensão muito maior do que realmente são.
Cada canto da cidade permanecia intacto. Era como aquela antiga música: " ..A mesma praça, os mesmos bancos, as mesmas flores e os mesmos jardins..."
A sensação que tive, era de que o cenário não havia mudado em nada. Eu era a única mudança ali. Mas era somente uma mudança física.  Porque o meu coração, permanecia como há vinte anos. Me senti como se ainda fosse aquela criança. Estava amparada, de volta àquele lugar que era meu.
 Alguns amigos estavam na cidade por causa do mesmo casamento. Foi um grande reecontro. A minha escola querida estava do mesmo jeito. Retornei à Vila II, e lá estava ela, praticamente abandonada. Mas a placa na entrada permanecia, dando um toque especial.
 O velho parque com a velha quadra já não fazia mais tanto sucesso, nem tinha crianças como antigamente, mas as lembranças do que vivemos ali estavam muito vivas dentro de nós. O meu sonho de retornar ao "paraíso" havia se tornado real.
Esse retorno durou somente um fim de semana. O tempo foi curto, mas foi o suficiente para eu fazer valer à pena cada segundo.
O passeio acabou! E eu voltei pra casa com o coração transbordando de felicidade e com a grande certeza de que, por mais que o tempo passe, essas lembranças jamais serão apagadas da minha memória.
Reviver esses momentos, me fez perceber o quanto é bom alimentar os sonhos e que viver de sonhos é dar sabor à vida."




Entrada da cidade



Carranca na entrada da cidade
Um dos simbolos mais importantes da história do Rio São Francisco



A velha Ponte sobre o "Velho Chico"


A Escola Estadual Coronel José Garcia Pereira
Onde eu estudei do Pré até a Sexta Série


A Vila II

Raquel - Uma das minhas amigas da infância
( hoje ela mora em São João Del Rei)
e o parque da Vila
Revivendo os velhos tempos
Antigamente eu cabia nesse balanço



A quadra

O coreto na pracinha da igreja 
 Ah! se esse coreto falasse!!!

Alguns dos grandes amigos de infância:
MarioZan ( Hoje mora em Bambuí),
Daniela, Cláudia e Mary
( todas ainda moram em Iguatama) e Raquel
Gleice ( Ainda mora em Iguatama), Cláudia e Raquel



A ponte de novo
Voltando pra casa




 
P.S: Gostaria de agradecer ao Rodrigo do Blog Mukirana Café,  que foi quem me inspirou a contar um pouquinho dessa estória que é tão importante na minha vida. Obrigada Rodrigo!

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Página virada


Muitas coisas aconteceram na minha vida nos últimos dias. Decepções, dores, traumas. E apesar de ser difícil entender, acredito que essas coisas acontecem, para nos ensinar. A vida não é feita somente de momentos felizes. As dores fazem parte do nosso crescimento, do amadurecimento, e é com elas que aprendemos a nos fortalecer. Ninguém disse que seria fácil! Aliás, nada nunca foi muito fácil. Pelo menos na minha vida.
Porém, depois de tantas dores, hoje resolvi virar a página definitivamente. Não dá pra passar o resto da vida lamentando, chorando pelos cantos, achando que o mundo é responsável por tudo que aconteceu.
O mundo não pára!
Ficar aqui, trancafiada nessa gaiola de sofrimentos, só tem meio feito mal. A amargura tomou conta dos meus olhos e o meu coração se fechou para o belo da vida. Não quero ficar assim.
Essa mágoa está me consumindo, e me fazendo esquecer de que a vida sempre vale à pena.
Alimentar a dor é dar à ela força pra continuar viva dentro de nós.
O que passou... passou. Agora, o melhor a fazer, é recomeçar.
Virar a página é sempre o primeiro passo para a renovação.
Com todos esses acontecimentos, tirei uma grande lição. Nada acontece na hora em que queremos. Toda essa dor, me fez aprender a ser tolerante, e a esperar cada coisa acontecer na sua hora.
O passado nunca vai deixar de existir. Ele apenas vai ficar escrito numa das páginas da minha vida. Mas não tomará conta de mim. Foi uma dura lição que jamais será esquecida. Mas, o apredizado tem que continuar, é já está na hora de passar para o próximo capítulo.
Que os próximos dias sejam repletos de grandes novidades e que as novas etapas venham para que eu possa superá-las com mais sabedoria e paciência.

"SABER RECOMEÇAR NA VIDA É TÃO IMPORTANTE QUANTO SABER VIVER."

sexta-feira, 2 de julho de 2010

O sonho que virou pesadelo

Tinha tudo pra ser um jogo espetacular!
Todos sabíamos que seria uma disputa dificil. Era matar ou morrer. Não teria mais nenhuma outra chance. Eram cento e noventa milhões de brasileiros confiantes, empenhados em torcer para esse time que estava lá representando cada um de nós.
Foi dada a partida, nossos corações saltavam no peito, todos unidos por um só objetivo, buscando a realização do sonho de ser EXACAMPEÃO!
Porém, como o vento muda a sua direção a cada segundo, o destino da nossa seleção também mudou e passamos de favoritos a fracassados num piscar de olhos.
Foram longos noventa minutos de sofrimento, de angústia, de pedidos para todos os santos e de uma imensa decepção.
Vimos em cada olhar o sonho se esvaindo. 
Os sorrisos e os gritos de euforia rapidamente foram dando lugar às lágrimas contidas.
Em cada rosto estava a marca da derrota.
Se passaram quatro anos da última copa, onde na mesma fase, a nossa seleção passava pela mesma situação. Era o filme se repetindo.
Agora o que nos resta, é aguardar mais quatro anos para a chegada da copa de 2014 dessa vez, dentro de casa.
 É levantar a cabeça, e continuar acreditando que da próxima vez vai ser melhor.


Do sonho da conquista de ser hexa só nos restou o sabor amargo da "laranja mecânica".
Mas, não percamos a esperança, porque "SOMOS BRASILEIROS E NÃO DESISTIMOS NUNCA."