"... Por tanto amor, por tanta emoção, a vida me fez assim.

Doce ou atroz, manso ou feroz... eu, caçador de mim..."

Milton Nascimento











segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Duas bolas, por favor



"Não há nada que me deixe mais frustrada do que pedir sorvete de sobremesa,contar os minutos até ele chegar e aí ver o garçom colocar na minha frente uma bolinha minúscula do meu sorvete preferido.
Uma só.
Quanto mais sofisticado o restaurante, menor a porção da sobremesa.
Aí a vontade que dá é de passar numa loja de conveniência, comprar um litro de sorvete bem cremoso e saborear em casa com direito a repetir quantas vezes a gente quiser, sem pensar em calorias, boas maneiras ou moderação.
O sorvete é só um exemplo do que tem sido nosso cotidiano.
A vida anda cheia de meias porções, de prazeres meia-boca, de aventuras pela metade.
A gente sai pra jantar, mas come pouco.
Vai à festa de casamento, mas resiste aos bombons.
Conquista a chamada liberdade sexual, mas tem que fingir que é difícil (a imensa maioria das mulheres continua com pavor de ser rotulada de 'fácil').
Adora tomar um banho demorado, mas se contém pra não desperdiçar os recursos do planeta./
Tem vontade de ficar em casa vendo um dvd, esparramada no sofá, mas se obriga a ir malhar./
E por aí vai.
Tantos deveres, tanta preocupação em 'acertar', tanto empenho em passar na vida sem pegar recuperação...
Aí a vida vai ficando sem tempero, politicamente correta e existencialmente sem-graça, enquanto a gente vai ficando melancolicamente sem tesão...
Às vezes dá vontade de fazer tudo “errado”.
Deixar de lado a régua, o compasso, a bússola, a balança e os 10 mandamentos.
Ser ridícula, inadequada, incoerente e não estar nem aí pro que dizem e o que pensam a nosso respeito.
Recusar prazeres incompletos e meias porções.
Nós, que não aspiramos à santidade e estamos aqui de passagem, podemos (devemos?) desejar várias bolas de sorvete, bombons de muitos sabores, vários beijos bem dados, a água batendo sem pressa no corpo, o coração saciado.
Um dia a gente cria juízo.
Um dia...
Não tem que ser agora.
Por isso, garçom, por favor, me traga: cinco bolas de sorvete de chocolate...
Depois a gente vê como é que faz pra consertar o estrago."

Danuza Leão

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Ai, ai...


Há dias não escrevo nada de "meu" por aqui. Talvez seja por falta de inspiração, falta de tempo, desinteresse, desânimo, cansaço, ou, por algum outro motivo que esqueci de citar.
A vida anda tomando conta de mim. A correria do dia a dia tem me feito esquecer de fazer coisas simples como bater papo com um vizinho, ler um livro, ouvir uma boa música, fazer uma caminhada no final da tarde,  fica à toa de papo pro ar pensando em qualquer outra coisa que não seja o trabalho, as contas pra pagar, a ida ao supermercado ou ao dentista. As vezes tenho a sensação de que o dia não tem mais vinte e quatro horas e que as coisas que tenho pra fazer simplesmente triplicaram.
Onde será que vou parar? Estou me acabando sem ter a menor noção disso. Ou as vezes até tenho noção da proporção que isso vem tomando na minha vida , mas, não faço a menor idéia de como mudar a situação(ah! também nem sei se quero realmente mudar).
E como o meu corpo reclama! Eu ultimamente estou descobrindo que sou a "Maria das Dores". Nunca senti tanta dor pra todo lado. Eu sei que isso se dá ao fato da idade também ( os 31 anos estão pesando sobre as minhas costas), sei que não tenho mais a mesma disposição para passar uma noite inteira na balada, que ando preferindo os programinhas de casais acomodados que só saem de casa pra comer. Isso quando não preferimos pedir uma pizza pra não ter nem que sair. Mas não é só por causa disso não. O rítmo acelerado dos dias também contribuem ( e muito) pra que eu deixe cada vez menos de fazer as coisas que gosto, pra aproveitar melhor o mísero tempo que me sobra ( e quando sobra) pra descansar, pra dormir até mais tarde, pra ficar jogada no sofá.
Até que tenho vontade de me aprontar, fazer uma maquiagem escândalo, calçar um belo par de saltos e sair arrasando por aí, de tomar todas e curtir a noite até o sol raiar, mas quando eu penso que depois vou precisar de quase uma semana pra me recuperar, desisto da idéia e troco tudo por um velho pijama, um rabo de cavalo e as minhas pantufas de sapo ( marido nenhum merece ver isso, mais o meu vê sempre) e entrar em estado de êxtase no colchão jogado no chão da sala e só sair de lá quando o domingo terminar...
Quando o celular desperta pela manhã a vontade que tenho é de bater tanto nele, de jogá-lo contra a parede umas mil vezes só pra me certificar de que ele nunca mais vai gritar: "É hora de levantar, são seis horas e trinta minutos". Eu odeio essa frase. Tenho pavor quando aquela mulherzinha lazarenta começa a falar isso sem parar na minha cabeça. Já saio da cama estressada com ela.
Queria descobrir quem foi FDP que inventou esse maldito toque de despertar, e o pior, como alguém em sã consciência decidi usar o maldito toque. Só uma louca de pedra como eu mesmo. É pura auto destruição. E como se isso não bastasse, ainda coloco o celular no modo "soneca" pra que a "maledita" fique repetindo a cada dez minutos. É o ápice da loucura mesmo. Ninguém normal iria querer acordar ouvindo uma coisa insana dessas. Acordar já é triste demais pra ter que ser assim. No mínimo teria que ser uma música calma pra dar mais vigor e diposição e tornar o momento menos desagradável.
Ai, ai... vidinha mesquinha!
Hoje, sexta feira, aqui estou eu relatando o momento mais sórdido dos meus dias e já pensando que amanhã é sábado e que eu bem que poderia dormir até mais tarde, não fosse a minha mania de pensar que apesar de todo estresse, eu não consigo ficar na cama enquanto o sol está estalando lá fora. Passar a metade do dia na cama definitivamente não dá.
Por isso, já estou preparando o meu roteiro pra cair da cama cedo e sair pra bater perna com a minha mãe. Entrar em todas as lojinhas do centro da cidade, futricar cada canto, ver as novidades do mundo fashion, comprar esmaltes, creme pro cabelo,  ver gente, andar pra lá e pra cá com a maior satisfação do mundo, visitar a vovó, comer besteira, até que o sábado termine e eu volte pra casa "mortinha da silva" e prontinha pra encarar uma sessão de filmes, comer mais besteiras e me jogar de novo no colchão no chão da sala e só sair de lá quando o domingo terminar...
Ai, ai... vidinha mesquinha!