"... Por tanto amor, por tanta emoção, a vida me fez assim.

Doce ou atroz, manso ou feroz... eu, caçador de mim..."

Milton Nascimento











quarta-feira, 21 de julho de 2010

O paraíso da minha vida


"Tudo começou nos anos oitenta , numa pequena e pacata cidade do Centro Oeste de Minas, chamada Iguatama.
Certo dia, meu pai chega em casa com a notícia de que iríamos  nos  mudar pra essa cidade até então completamente desconhecida. Nessa época meio irmão e eu éramos muito pequenos.
Pra nós, era o mesmo que ir morar no fim do mundo. Não tínhamos a menor idéia do que iríamos encontrar por lá. Porém, meus pais, com o intuito de conseguir uma vida melhor ( já que meu pai havia recebido uma proposta pra trabalhar numa grande empresa que se instalava lá), enfrentaram  essa mudança com a cara e a coragem. E assim fomos nós. Mal sabíamos que estávamos indo pro "paraíso". Foi uma viagem longa, cansativa e maior ainda era a nossa ansiedade para saber o que nos esperava.
Quando avistamos a chegada da cidade, uma coisa me chamou muita atenção. Havia uma ponte sobre um rio sujo que atende pelo nome de "São Francisco", ou para os mais intímos, o "Velho chico". Essa ponte me assombrou durante todos os anos em que vivi lá. Tenho pavor de água, e todas as noites tinha pesadelos de  que estava caindo daquela ponte horrorosa, que pra mim era imensa, do tamanho do meu medo.
A cidade era completamente parada, com pessoas simples, típicas de cidades do interior. Sabíamos que iríamos morar em uma vila que pertencia à tal empresa. Essa vila era conhecida como Vila II, mas na entrada, havia uma placa indicando que o lugar chamava-se "Jardim Paraíso".
Os dias foram passando, fomos nos acostumando com o lugar, fizemos grandes amizades e com isso fomos descobrindo aos poucos que não poderia haver lugar melhor para se viver.
 Foram os melhores anos da minha vida. Lá, tudo era muito especial. Os amigos eram os melhores , as frutas tinham sabores especiais, a escola era incrível, não havia violência, brincávamos na rua até tarde da noite. Nossos brinquedos eram os mais simples, porém,os que mais nos divertia. Essa vila era realmente o "paraíso".
 Tinha um pequeno parque, com brinquedos velhos, uma velha quadra,  onde passávamos a maior parte do tempo. Ali era o nosso mundo. E foi assim que fui me tornando a criança mais feliz do universo.
Os anos se passaram, nós fomos crescendo, e com isso, algumas famílias começaram a se mudar de lá. Vi muitos dos meus melhores amigos, tendo que se despedir do "paraíso", e tendo que voltar para o mundo real. Afinal, quase todos os adultos daquele lugar, estavam lá pelo mesmo motivo que meu pai. Para trabalhar na tal empresa. Mas, como nada na vida é para sempre, aqueles empregos promissores também não eram e assim, as pessoas teriam que voltar para as suas cidades de origem.
 O mesmo aconteceu conosco. Depois de alguns anos vivendo lá,  meu pai chega com a terrível notícia de que teríamos que voltar pra Uberaba em poucos dias. Era dezembro, estávamos de férias da escola, muitos de nossos amigos estavam viajando. Como a maioria das pessoas eram de outras cidades, sempre aproveitavam os feriados e as férias para visitarem as suas famílias. Foi tudo muito rápido e mal tivemos tempo de nos despedir. Em um curto prazo, estávamos de mudança, prontos para colocar fim àquele sonho.
Foi a viagem mais longa da minha vida. Não conseguia conter o choro e a tristeza de ter que deixar aquele lugar. Não me conformava de não ter tido tempo de me despedir dos meus amigos da escola. Não conseguia aceitar o fato de que eu nunca mais os veria. Nunca mais voltaria lá. Aquela ponte horrosa não mais faria parte da minha vida. E de certa forma iria sentir falta dela. Tudo iria mudar. Estava prestes a enfrentar a vida numa cidade relativamente grande, onde não seria possível viver aqueles momentos mágicos da pequena Iguatama. Nesta época eu já estava com doze anos. Já entendia melhor as coisas, mas aceitar era muito dificil!
 Começamos uma nova vida em Uberaba,  com novos amigos, numa nova escola. Tudo novo. Tudo diferente. Me sentia como se não fosse desse mundo. O meu mundo era aquela cidadezinha que deixei pra trás. Sentia uma saudade profunda daquele lugar e das coisas maravilhosas que vivi lá. Passei longos anos, lamentando e sempre com um pé preso naquele passado magnífico e inesquecível.
Perdi completamente o contato com todos os meus amigos. Por algum tempo, ainda escrevíamos cartas, mas, isso foi ficando cada vez mais raro, até que um dia nunca mais tivemos notícias uns dos outros. Perdemos o contato, mas, jamais deixei de sentir saudades e de sonhar com o momento em que nos encontraríamos de novo.
Praticamente vinte anos depois, com o surgimento do orkut, vi a possibilidade de reencontrar essas pessoas e comecei a minha odisséia pelo mundo virtual na tentativa incessante de encontrar alguém daquela época.
A cada dia era uma descoberta nova. Encontrei praticamente todos os meus velhos amigos, todos com novas estórias.Muitos formados, casados, com filhos.
Descobri que todos eles também alimentavam a saudade do passado,  não haviam se esquecido de mim, e que o "paraíso" tinha a mesma importância pra eles, mesmo depois de tantos anos. Eles também guardavam com carinho essas lembranças.
E com esses reencontros virtuais, nasceu a possibilidade de realizar o sonho de retonar ao "paraíso".
Uma amiga daquela época ( uma das poucas que ainda morava lá) iria se casar, e havia me mandado um convite do seu casamento. Iria se tornar real o meu sonho de poder voltar àquele lugar tão mágico.
Foi a melhor viagem da minha vida!
Quando avistei a cidade ao longe, pensei que meu coração não iria aguentar de tanta emoção.
Chegando na cidade, lá estava a ponte. Estava velha, um pouco destruída, mas firme como nunca.
 O "Velho Chico" continuava imponente, apesar de meio descuidado. Nesse instante, tive uma súbta crise de risos, porque  descobri que a tal ponte não era tão assustadora como eu acreditava que fosse. É que quando somos crianças as coisas que nos metem medo, têm uma dimensão muito maior do que realmente são.
Cada canto da cidade permanecia intacto. Era como aquela antiga música: " ..A mesma praça, os mesmos bancos, as mesmas flores e os mesmos jardins..."
A sensação que tive, era de que o cenário não havia mudado em nada. Eu era a única mudança ali. Mas era somente uma mudança física.  Porque o meu coração, permanecia como há vinte anos. Me senti como se ainda fosse aquela criança. Estava amparada, de volta àquele lugar que era meu.
 Alguns amigos estavam na cidade por causa do mesmo casamento. Foi um grande reecontro. A minha escola querida estava do mesmo jeito. Retornei à Vila II, e lá estava ela, praticamente abandonada. Mas a placa na entrada permanecia, dando um toque especial.
 O velho parque com a velha quadra já não fazia mais tanto sucesso, nem tinha crianças como antigamente, mas as lembranças do que vivemos ali estavam muito vivas dentro de nós. O meu sonho de retornar ao "paraíso" havia se tornado real.
Esse retorno durou somente um fim de semana. O tempo foi curto, mas foi o suficiente para eu fazer valer à pena cada segundo.
O passeio acabou! E eu voltei pra casa com o coração transbordando de felicidade e com a grande certeza de que, por mais que o tempo passe, essas lembranças jamais serão apagadas da minha memória.
Reviver esses momentos, me fez perceber o quanto é bom alimentar os sonhos e que viver de sonhos é dar sabor à vida."




Entrada da cidade



Carranca na entrada da cidade
Um dos simbolos mais importantes da história do Rio São Francisco



A velha Ponte sobre o "Velho Chico"


A Escola Estadual Coronel José Garcia Pereira
Onde eu estudei do Pré até a Sexta Série


A Vila II

Raquel - Uma das minhas amigas da infância
( hoje ela mora em São João Del Rei)
e o parque da Vila
Revivendo os velhos tempos
Antigamente eu cabia nesse balanço



A quadra

O coreto na pracinha da igreja 
 Ah! se esse coreto falasse!!!

Alguns dos grandes amigos de infância:
MarioZan ( Hoje mora em Bambuí),
Daniela, Cláudia e Mary
( todas ainda moram em Iguatama) e Raquel
Gleice ( Ainda mora em Iguatama), Cláudia e Raquel



A ponte de novo
Voltando pra casa




 
P.S: Gostaria de agradecer ao Rodrigo do Blog Mukirana Café,  que foi quem me inspirou a contar um pouquinho dessa estória que é tão importante na minha vida. Obrigada Rodrigo!

5 comentários:

  1. Nossa Kelly! Lindo seu relato! Fiquei imaginando quanta emoção deve ter sido reencontrar o lugar e as pessoas de sua infância. e adorei as fotos! Muito, muito bom! Parabéns pelo seu texto.

    Beijos

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  2. Pois é Rodrigo. Foi realmente muito emocionante. Confesso que ainda tenho um pézinho preso lá e que se eu pudesse escolher, eu abriria mão dessa minha vida louca aqui e voltaria pra lá correndo.
    Acho que tenho Sindrome de Peter Pan... não queria crescer não....rsrsrsrsrs

    Obrigada!!
    Beijo grande pra você!

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  3. Sindrome de Peter Pan! Creio que todos nós temos um pouquinho dela rsrsrs

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  4. Maravilhoso seu texto, deu um aperto tão grande no peito que cheguei ao ponto de ter que conter as lágrimas. Parece que estava escrevendo sobre minha vida. Aquela cidade, aquele pedacinho de chão chamado Jardim Paraíso, o nosso “PARAÍSO”. Agradeço a Deus por ter passado minha infância naquele lugar. Adorei as fotos..... De uma forma ou de outra somos conterrâneas de coração. E garanto a vc, não descarto a hipótese de voltar. Um grande abraço e muiiiiito obrigada pelo texto. Bjssssss!!!!!!!!!!!!!!!!

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  5. Nossa parece que voltei no tempo lendo tudo isso.. adorei as fotos do parquinho..minha tia morava em frente, passei momentos muito felizes lá..lembrei dos churrasco em casa com toda a famila reunida.. eu e seu irmão Kleiton brigando... meu pai tocando violão eu e vc ensaiando umas musicas!! nossa amei tudo que escreveu....bjim

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